No mês de novembro, um estaleiro da Bahia demitiu mil trabalhadores em razão do atraso de pagamento da Petrobras. Pelo mesmo motivo um fornecedor do Rio Grande do Sul dispensou mais de mil empregados sem poder pagar as verbas rescisórias. Numa empresa de engenharia na Bacia de Campos houve dispensa de todos os 2 mil funcionários em decorrência de atrasos de pagamento e cancelamento de contratos da Petrobras. Uma firma de montagem de equipamentos demitiu 2.600 empregados. Na refinaria de Pernambuco e em seus fornecedores as dispensas chegaram também a 2 mil empregados. No conjunto, estima-se que as empresas que prestam serviços à Petrobras tenham fechado novembro com menos 10 mil postos de trabalho. Tudo indica que a onda continuará nos próximos meses.

Isso é muito preocupante, porque a cadeia produtiva do petróleo é enorme, envolve a construção e operação de plataformas, navios, refinarias, oleodutos, obras civis e de transporte e uma infinidade de serviços especializados. Por isso as demissões apontadas têm grandes reflexos para trás e para a frente na referida cadeia, o que afeta muitos empregos indiretos. Por exemplo, uma média empresa que fornece equipamentos de proteção individual aos prestadores de serviços da Petrobras na Bacia de Campos teve seu faturamento reduzido em 70% em 2014 e foi obrigada a dispensar 230 dos seus 300 empregados. Os desdobramentos são enormes.

Assustado com a onda de demissões, o governo pediu que o BNDES reservasse R$ 5 bilhões para atender a um dos fornecedores de sondas para o pré-sal que dispensou mil empregados. Todavia o BNDES e bancos privados nacionais e estrangeiros estão cautelosos para emprestar à petroleira ou a seus fornecedores, o que reduz a possibilidade de resolver os problemas trabalhistas com financiamento bancário.

O receio do governo com o eventual alastramento das demissões é justificável. Afinal, a Petrobras tem um gigantesco plano de investimentos de US$ 240 bilhões para 2014-2018. Só em 2014, a empresa deveria investir cerca de US$ 40 bilhões, o que seria essencial para sustentar as empresas industriais e de serviços voltadas para a exploração e o refino de petróleo. Um corte abrupto dos contratos seria desastroso para milhares de empresas e seus empregados. E isso está ocorrendo.

O quadro é bastante preocupante e envolve trabalhadores de vários níveis de qualificação, inclusive engenheiros e técnicos especializados. Será difícil para esses profissionais encontrar recolocação no mercado de trabalho. Isso afetará o seu poder de compra, assim como de suas famílias – com novos reflexos para o emprego e para a economia como um todo.

Adicionalmente, o corte das despesas públicas em 2015 decorrente do ajuste fiscal deverá atingir inúmeras obras de infraestrutura e de habitação, com tendência a agravar o quadro do emprego.

É difícil chegar a um número exato para a taxa de desemprego em 2015, mas certamente ficará acima dos atuais 6,8% registrados pela Pnad em outubro, podendo chegar a 8% e até mais ao somar os reflexos da crise da Petrobras com os efeitos da contração dos investimentos do setor público em infraestrutura, habitação e outros.

Uma elevação do desemprego para a casa dos 8%, sem falar no aumento de impostos, afetará toda a economia e setores que já não vão bem. As montadoras de veículos, por exemplo, despediram cerca de 12 mil empregados em 2014, com reflexos para a frente e para trás – autopeças, matérias-primas, serviços de compra e venda e outros.

Com a previsão de crescimento do PIB de apenas 1% (ou menos), será impossível expandir o emprego e reduzir o desemprego em 2015. Haverá muito descontentamento e protestos. Caberá à presidente acalmar os ânimos. Será um grande desafio para um governo acostumado a distribuir benesses.

Sobre o autor: José Pastore é Professor de relações de trabalho da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP e membro da Academia Paulista de Letras.

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO / Terça feira, 30 de dezembro de 2014